PLANEJAMENTO ESPETÁCULO
O processo de planejamento tem
evoluído, nos últimos tempos, em seus aspectos mais importantes: a participação
e a gestão. Todo planejamento tem de ser, necessariamente, estratégico na
gestão e democrático na participação. A redundância faz sentido quando se
percebe que a adjetivação do planejamento em estratégico embute um viés
autoritário. Não no sentido de força, mas no de poder da autoridade constituída
com conhecimentos, instrumentos e mecanismos sobre o indivíduo desprovido de informação.
O chamado planejamento participativo
procura inserir neste processo toda a sociedade civil organizada. Parece ser
mais abrangente e democrático, mas, entretanto, carrega uma postura tecnicista
que distancia e inibe a participação popular. Não pode, verdadeiramente, haver
um comprometimento social quando não se tem acesso a conceitos básicos que são
usados para manipular o processo de planejamento. E óbvio que transparência e
clareza das autoridades em conduzir a discussão sobre o futuro da comunidade
devem ser sempre louvadas e incentivadas. Isto é muito bom para a formação de
uma consciência social e um comprometimento com o bem comum.
No entanto, em grande parte, o
planejamento se tornou um espetáculo de marketing, em que autoridades e
técnicos explanam sobre projetos impregnados de efeitos visuais e de programas
político-eleitorais. São eventos sociais desprovidos de formulação. Trata-se de
um diálogo mudo/surdo onde a linguagem comum não existe. Claro, há exceções e é
bom reforçar esta regra antes que algum encarapuçado se manifeste, camuflando o
cerne deste questionamento: participação versus conhecimento e estratégia
versus gestão?
É necessária uma reflexão sobre
algumas destas iniciativas. Pode-se identificar que o maior problema está, por
um lado, no uso de uma linguagem hermética, cifrada e tecnicista reforçada em
um discurso populista impregnado de boas intenções e, de outro, na falta de
informação e conhecimento da população. Esta combinação estéril só é possível
pela incipiente prática das autoridades em discutir os projetos de futuro como
espetáculo marquetológico. Assim, a solução para melhorar o planejamento é
investir na socialização do conhecimento e da cultura, e criar material
didático e informativo com uma linguagem simples e clara, como vem acontecendo
através dos profissionais da educação ambiental. É urgente que as instituições
e as organizações da sociedade civil se mobilizem para criarem as condições de
promoção de uma educação para a cidadania, comprometida com a vida, com o bem
comum e com o futuro planetário.
Este será o início para formulação de
um planejamento substantivo.
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