domingo, 24 de janeiro de 2016


PLANEJAMENTO ESPETÁCULO

O processo de planejamento tem evoluído, nos últimos tempos, em seus aspectos mais importantes: a participação e a gestão. Todo planejamento tem de ser, necessariamente, estratégico na gestão e democrático na participação. A redundância faz sentido quando se percebe que a adjetivação do planejamento em estratégico embute um viés autoritário. Não no sentido de força, mas no de poder da autoridade constituída com conhecimentos, instrumentos e mecanismos sobre o indivíduo desprovido de informação.

O chamado planejamento participativo procura inserir neste processo toda a sociedade civil organizada. Parece ser mais abrangente e democrático, mas, entretanto, carrega uma postura tecnicista que distancia e inibe a participação popular. Não pode, verdadeiramente, haver um comprometimento social quando não se tem acesso a conceitos básicos que são usados para manipular o processo de planejamento. E óbvio que transparência e clareza das autoridades em conduzir a discussão sobre o futuro da comunidade devem ser sempre louvadas e incentivadas. Isto é muito bom para a formação de uma consciência social e um comprometimento com o bem comum.

No entanto, em grande parte, o planejamento se tornou um espetáculo de marketing, em que autoridades e técnicos explanam sobre projetos impregnados de efeitos visuais e de programas político-eleitorais. São eventos sociais desprovidos de formulação. Trata-se de um diálogo mudo/surdo onde a linguagem comum não existe. Claro, há exceções e é bom reforçar esta regra antes que algum encarapuçado se manifeste, camuflando o cerne deste questionamento: participação versus conhecimento e estratégia versus gestão?

É necessária uma reflexão sobre algumas destas iniciativas. Pode-se identificar que o maior problema está, por um lado, no uso de uma linguagem hermética, cifrada e tecnicista reforçada em um discurso populista impregnado de boas intenções e, de outro, na falta de informação e conhecimento da população. Esta combinação estéril só é possível pela incipiente prática das autoridades em discutir os projetos de futuro como espetáculo marquetológico. Assim, a solução para melhorar o planejamento é investir na socialização do conhecimento e da cultura, e criar material didático e informativo com uma linguagem simples e clara, como vem acontecendo através dos profissionais da educação ambiental. É urgente que as instituições e as organizações da sociedade civil se mobilizem para criarem as condições de promoção de uma educação para a cidadania, comprometida com a vida, com o bem comum e com o futuro planetário.

Este será o início para formulação de um planejamento substantivo.

 

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