METROPOLIZAÇÃO
O urbanismo, com sua fundamentação
sociológica, parte de uma premissa clássica: o espaço da cidade é reflexo da
sociedade. O pensamento dos urbanistas marxistas ajudou muito, no século
passado, a cristalizar este conceito. No entanto, a visão de um socialismo
científico que se predispunha a uma mudança na realidade da ocupação do
território das cidades não se materializou com a revolução bolchevique. Antes
de ser uma frustração, o fracasso da experiência soviética poderia nos ensinar
muito e colocar uma questão bastante interessante: a ocupação do território nas
cidades poderia ocorrer de outra forma em nossa sociedade? O espaço urbano
poderia ser mais democrático? Ou melhor, poder-se-ia ter uma socialização do
espaço urbano com essa sociedade capitalista pós-industrial?
Estas questões devem ser equacionadas
urgentemente, pois estudos do uso sustentável dos recursos naturais alertam
para seu esgotamento e, portanto, também este modelo de sociedade de rapina. A
civilização pós-industrial deve encontra uma política social de uso e ocupação
do território de modo a garantir o acesso de todos os cidadãos aos meios de
sobrevivência: a terra, a água, o ar e os outros seres vivos.
O processo de urbanização na região
metropolitana da Grande Vitória aconteceu sem planejamento e sem uma
preocupação em se preservar o patrimônio ambiental. Assim, os espaços públicos
foram perdendo sua importância e o sistema foi alijando grande parcela da
população para as periferias sem saneamento. O indivíduo sem recursos e
impelido para a margem dos espaços urbanos sem infraestrutura também vê sua
relação espaço-cidadão empobrecida. A qualidade de vida urbanística é
privilégio de uma elite que se apropria não só do capital gerado pela
mão-de-obra da classe trabalhadora, mas do seu território enquanto privatização
do patrimônio comum. A metrópole como
território que se expressa uma divisão de classes é visível; no entanto é pouco
legível pelos cidadãos. Isto ocorre porque as complexas relações
sócio-espaciais da cidade mascaram a realidade injusta do uso e ocupação do
território.
A democracia representativa ainda não
conseguiu esquematizar políticas sociais que açambarquem todas as faces desta
questão e, tampouco, equacionar um arcabouço jurídico-institucional para socializar
os espaços metropolitanos: a esquerda reforma urbana. A habitação, o
abastecimento de água, o esgotamento sanitário, o transporte coletivo, a
segurança, o lazer, dentre outras demandas da população por serviços públicos
de interesses comuns só terão solução na ação conjunta da região metropolitana.
Esse é um paradigma a ser enfrentado na modelagem do novo projeto de lei que o
Governo estadual prepara para a implantação da região metropolitana da Grande
Vitória.
O governo estadual é obrigado, pelo
Estatuto da Metrópole, a elaborar um plano diretor metropolitano integrado. É
imprescindível e urgente a aprovação, pela Assembléia Legislativa, desse novo
marco legal para que a metrópole capixaba possa se desenvolver planejada e
ordenadamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário