O PORTO E A PORTA DE VITÓRIA
A Vila da Ilha de N. Senhora da Vitória nasceu do porto. O cais foi
porta privilegiada que ligava a colônia ao velho mundo. A cidade-porto cresceu
até começarem os conflitos pela falta de espaços para expansão das atividades
urbanas e portuárias. A partir da década de 80 iniciou-se um processo de
esvaziamento e deterioração qualitativa do centro. Houve um deslocamento das
suas funções urbanas típicas para a região norte-litorânea da ilha e criou-se
um novo centro metropolitano na Enseada do Suá.
Com a ideia de revitalização do antigo centro, surge a proposta de
utilização dos galpões do porto para atividades culturais, artísticas e
promoção do turismo. Entretanto, esse projeto tem um ponto de vista urbanístico
desfocado, pois pretende criar uma atividade em detrimento de outra. Parece
também equivocado ao basear-se no fato de que outras cidades fizeram o mesmo
com seus antigos portos, só que eram espaços que não cumpriram mais sua função.
Não é o caso do porto de Vitória, imprescindível neste novo ciclo capixaba de
desenvolvimento baseado no petróleo e na expansão. Parece ilógico “revitalizar”
o antigo centro com atividades culturais e turísticas comprometendo a expansão
dos serviços portuários. Deve-se, ainda, atentar para o fato de que muitos equipamentos
de lazer e cultura já estão situados na Enseada do Suá, reforçando sua função
de novo centro social e político. Até mesmo Jardim da Penha, com as dezenas de antigos Armazéns do IBC e junto da UFES, poderia ser o novo centro cultural de Vitória.
O antigo centro perdeu sua função urbanística, mas manteve seu potencial
portuário. As administrações da cidade e do porto precisam integrar seus
objetivos para o desenvolvimento econômico e social. Dever-se-ia aproveitar a
oportunidade desse rearranjo territorial da metrópole e revigorar o
antigo centro como espaço de suporte às atividades portuárias e petrolíferas.
Poder-se-ia, através do PDU e do Código tributário, incentivar a
implantação de serviços de comércios, de despachantes, de suprimentos, de
escritórios aduaneiros, de empresas de logística e de muitas outras atividades
culturais e turística? Ou apoiar as potencialidades portuárias, petrolíferas e
de exportação não revitalizaria ou requalificaria melhor esse espaço? Ou com o
uso do espaço para lazer e turismo fechar-se-ia a porta ao novo ciclo de
desenvolvimento baseado no porto?
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