CAPITAL DE PAPEL?
Vitória
é a capital capixaba no papel, mas na realidade vem perdendo rapidamente essa
função na região metropolitana. A centralidade que deveria ser a marca de uma
capital mudou de rumo e está se espalhando para outras áreas da metrópole com
melhores potencialidades de desenvolvimento das atividades de serviços e
comércio. Fica clara essa migração quando pensamos no novo eixo comercial e
serviços de Laranjeiras na Serra, na consolidação do pólo de comércio e
serviços de Campo Grande em Cariacica e, ainda, na expansão do novo centro de
comércio e serviços em Vila Velha com três grandes shoppings e prédios de
escritórios. O município de Viana hoje se apresenta como alternativa
territorial de empresas de logística e de novo eixo industrial da metrópole. O
esvaziamento do território da ilha, após sucessivos planos diretores que
tornaram os terrenos caros em função das limitações de uso e ocupação do solo, forma
hoje um espaço quase que de passagem entre os diversos centros metropolitanos.
Vitória virou um “nó” nas conexões entre regiões ativas economicamente em
Serra, Vila Velha, Viana e Cariacica. Isso só promove maiores deslocamentos e
piora a mobilidade urbana.
Nos
últimos 15 anos a capital de Vitória vem perdendo atratividade para novos
empreendimentos e o dinamismo econômico se deslocou para os municípios
vizinhos. Grande parte dessa mudança e piora da capital se deve aos equívocos
de planos diretores de uso e ocupação do solo urbano. Assim, os terrenos e
empreendimentos da capital tornaram-se caros e com diversas restrições para
atividades de comercio e serviços, além de solenemente ignorar a atividade
industrial e escamotear as atividades portuárias e de logísticas. O PDM da
capital parte da premissa caolha de que “qualidade de vida” se traduz apenas
com moradia e sufocamento da dinâmica da cidade. Criou-se um discurso histérico
sobre limite de gabarito e uma visão populista de que a cidade devia traduzir
apenas o que “dona Maria” da comunidade pregava contra bares, comércios e outras
atividades no bairro, porque traziam transtornos para a região. Com certeza
essa estratégia cega expulsou os diversos empreendimentos para as cidades
vizinhas e a capital não tem e nem poderá ter sua centralidade. A capital não
cumpre mais a função de ser o território privilegiado na região metropolitana
que concentraria os serviços e comércios de especialidades e complexidades.
A
capital em seu PDM também não tem mais a função institucional de centralizar os
serviços de Estado, da administração publica e seus órgãos correlatos. É só
perceber que esta atividade institucional e órgãos de governo não tem nenhum
incentivo nos índices urbanísticos para sua instalação. Daqui algum tempo, os
próprios governos estadual e federal perceberão que é mais fácil e vantajoso
construir prédios públicos nos municípios vizinhos. Nem mesmo as entidades da
sociedade civil, federações, sindicatos estaduais, autarquias e outras
atividades ligadas às atividades institucionais estaduais e regionais, recebem
incentivos para instalação de seus escritórios e sedes na cidade de Vitória.
Então para que serve a capital?
A
responsabilidade desse debate é da administração municipal. E esse desatino
parece se concretizar mais uma vez nessas audiências que a PMV vem promovendo
para a revisão do PDM da cidade. A falta de um planejamento e de propostas fica
evidente quando a discussão confunde-se em propostas de ciclovias e de
necessidade de posto de saúde nas comunidades. Críticas ao transporte coletivo
e propostas de gabarito numa mistura que só serve para escamotear o problema de
uso e ocupação do solo urbano. É uma irresponsabilidade jogar o futuro da
cidade em uma discussão tão rasa tornando a capital uma cidade do datashow.
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