quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

CAPITAL DE PAPEL?

Vitória é a capital capixaba no papel, mas na realidade vem perdendo rapidamente essa função na região metropolitana. A centralidade que deveria ser a marca de uma capital mudou de rumo e está se espalhando para outras áreas da metrópole com melhores potencialidades de desenvolvimento das atividades de serviços e comércio. Fica clara essa migração quando pensamos no novo eixo comercial e serviços de Laranjeiras na Serra, na consolidação do pólo de comércio e serviços de Campo Grande em Cariacica e, ainda, na expansão do novo centro de comércio e serviços em Vila Velha com três grandes shoppings e prédios de escritórios. O município de Viana hoje se apresenta como alternativa territorial de empresas de logística e de novo eixo industrial da metrópole. O esvaziamento do território da ilha, após sucessivos planos diretores que tornaram os terrenos caros em função das limitações de uso e ocupação do solo, forma hoje um espaço quase que de passagem entre os diversos centros metropolitanos. Vitória virou um “nó” nas conexões entre regiões ativas economicamente em Serra, Vila Velha, Viana e Cariacica. Isso só promove maiores deslocamentos e piora a mobilidade urbana.
Nos últimos 15 anos a capital de Vitória vem perdendo atratividade para novos empreendimentos e o dinamismo econômico se deslocou para os municípios vizinhos. Grande parte dessa mudança e piora da capital se deve aos equívocos de planos diretores de uso e ocupação do solo urbano. Assim, os terrenos e empreendimentos da capital tornaram-se caros e com diversas restrições para atividades de comercio e serviços, além de solenemente ignorar a atividade industrial e escamotear as atividades portuárias e de logísticas. O PDM da capital parte da premissa caolha de que “qualidade de vida” se traduz apenas com moradia e sufocamento da dinâmica da cidade. Criou-se um discurso histérico sobre limite de gabarito e uma visão populista de que a cidade devia traduzir apenas o que “dona Maria” da comunidade pregava contra bares, comércios e outras atividades no bairro, porque traziam transtornos para a região. Com certeza essa estratégia cega expulsou os diversos empreendimentos para as cidades vizinhas e a capital não tem e nem poderá ter sua centralidade. A capital não cumpre mais a função de ser o território privilegiado na região metropolitana que concentraria os serviços e comércios de especialidades e complexidades.
A capital em seu PDM também não tem mais a função institucional de centralizar os serviços de Estado, da administração publica e seus órgãos correlatos. É só perceber que esta atividade institucional e órgãos de governo não tem nenhum incentivo nos índices urbanísticos para sua instalação. Daqui algum tempo, os próprios governos estadual e federal perceberão que é mais fácil e vantajoso construir prédios públicos nos municípios vizinhos. Nem mesmo as entidades da sociedade civil, federações, sindicatos estaduais, autarquias e outras atividades ligadas às atividades institucionais estaduais e regionais, recebem incentivos para instalação de seus escritórios e sedes na cidade de Vitória. Então para que serve a capital?

A responsabilidade desse debate é da administração municipal. E esse desatino parece se concretizar mais uma vez nessas audiências que a PMV vem promovendo para a revisão do PDM da cidade. A falta de um planejamento e de propostas fica evidente quando a discussão confunde-se em propostas de ciclovias e de necessidade de posto de saúde nas comunidades. Críticas ao transporte coletivo e propostas de gabarito numa mistura que só serve para escamotear o problema de uso e ocupação do solo urbano. É uma irresponsabilidade jogar o futuro da cidade em uma discussão tão rasa tornando a capital uma cidade do datashow.

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