segunda-feira, 6 de novembro de 2017


A POLÍTICA E A CIDADE

O pensador grego da antiquidade que formou a base do pensamento moderno sobre a política foi Platão (428 a.c – 387 a.c). Em seus Diálogos, Platão refunda o pensamento político grego e inventa esquemas imaginários de poder. Em A República (433 a.c) Platão estará fundamentando o direito na cidade-estado grega, onde a justiça é o fato de que o conjunto da cidade está bem dividido, bem articulado, e que nesse conjunto da cidade cada um tem o seu lugar e não tenta tomar o de outro. Desse modo, a hierarquia da cidade reafirma a natureza diferente dos indivíduos que compõem a cidade-estado, justificando dessa forma a divisão em classes e a ocupação diferenciada do território da cidade.
Em A República, estar-se-ia tentando uma aproximação para definir a boa cidade, uma idealização. Poder-se-ia dizer que em A República fundamenta-se toda a ideia da ciência do urbanismo com suas divisões, setorizações, zoneamentos e hierarquizações do espaço. Nesse primeiro momento do pensamento platônico, a cidade é um conceito puro, como a verdade e a beleza, onde a funcionalidade e a boa forma da cidade pudessem ser trabalhadas em um conceito técnico, onde no grego thecné se aproxima de uma ideia de arte. Parece óbvia a coincidência desse pensamento clássico do filósofo grego com uma gênese narrativa do urbanismo moderno.
De acordo com A República, são os filósofos de um tipo especial que deveriam governar a cidade, segundo Platão, depois de terem passado o essencial de suas vidas preparando-se para a teoria, para a visão, para a intuição das Idéias. Mas nesse texto de Platão encontra-se um paradoxo, pois nada nos diz que essas Idéias tornem o filósofo da República capaz de gerenciar, de governar nas situações singulares, concretas. Esse tema do filósofo que dirige o olhar para um lugar e que não vê diante de seus pés também faz parte do anedotário filosófico dos gregos: lembremo-nos de Tales, que olha o céu e cai num buraco.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017



METROPOLIS OF THE FUTURE

The rupture in the territory of the metropolis provoked by the fourth wave of the digital revolution will transform urban spaces and human activity. The urbanized civilization will have to adapt its territory to this new technological way of life and this will imply in rethinking the use and occupation of the soil in the cities. The amplitude in the absorption and implantation of these new technologies in their territorial infrastructure will differentiate the metropolises as a place of prosperity and producer of knowledge, defining their position in the global competition.

The optical cabling system and high-speed broadband, with the incorporation of digital technologies in transport, energy consumption and production will be normal in cities. Recycling solid waste and sanitation on digital platforms as well as rationalization of supply, traffic management and public safety will make the city more and more efficient. It will be, therefore, the metropolis, a privileged place of production of the creative economy with shared prosperity.

One possible change will be the expansion to a larger region of direct influence, as the use of work platforms and alternatives with transport applications will provide a spreading of the cities. Paradoxically, cities will also need spaces of social interaction and centralizing, as bases for the gratification of virtual communities and the necessary physical catharsis to consolidate the collective identity.

These spaces will boost polycentrism in the metropolis, where virtual communities would choose places to socialize and exchange group experiences. The combined network events would take place in places (squares, parks or subway stations) that were not initially designed for this purpose, allowing greater flexibility in the ground and better utilization of the infrastructure. The various centers of the metropolis will also increase their specializations according to the interests of groups or services, such as regions with medical centers, purchases of clothes or electronics, foods and conglomerates of education and training, among others.

The buildings will be reprogrammable, changing their uses according to local interests and quickly adapting to the new activities demanded. Or it could have multiple uses scheduled and digitally controlled according to the needs of virtual communities, ie a building may be a social center, gym, fair, nightclub, theater, school or other adaptive uses. To the extent that these infrastructures in information and communication technologies connect citizens, governments, companies, factories, consumption and educational equipment, metropolises will be spaces of experimentation, generation of knowledge and transforming centers of ideas into values ​​in the global economy.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

数字城市 


在数字/术方面的第四次工业革命正在进行中,将在社会和经济活动中,从而在城市的领土上将产生巨大的冲击。这个新的数字时代的技术创新,在全球规模和各方面进步的综合形式以及复杂性和速度方面的技术创新将会改变人类的空间和生活。而城市也将受到很大的影响,因为这是主要人类活动集中的特权空间。城市生活在其不再依赖于物理接近度的情况下,将受到归属感和邻里感,居住和生活的影响;而是在数字平台上连接的虚拟社区

当工作机器人化时,城市将被修改,工业厂房不再需要大量工人在区域之间移动。贸易不会依赖于集中商品和人员的空间,因为物流系统和物体的虚拟实验将允许每个人都参与虚拟市场。在3D打印机中生产定制物体的行业将在城市结构中形成一体化空间,在周边不再有巨大的工厂。自主车辆将大大改变城市流动和街道和道路的管理,同样会改变车辆作为个人遗产的概念

生活空间将与生活,工作和休闲与人工智能和物联网相结合。所有这些可能性将带来住房,生产,工作,消费,休闲,交通和物流系统的深刻变化和破裂,即会对城市的功能和领域产生影响和不连贯性历史表明,城市只有三个这样大的空间破裂。第一个原因,当墙壁定义了安全空间和集中管理时,标志着与该领域活动的差异。第二,在农业革命之后,中华民族国家正在组建,扩大和界定边界,允许城市推翻墙壁,巩固自己作为商业和服务领域。第三,在工业革命时期,随着城市化进程的密集化,伴随着在全国范围内占主导地位的大型工业厂房,激起了城市的深刻变化

城市第四次突破已经接近新的技术/数字革命。城市准备迎接这个新时代的挑战吗?这个人类新阶段的活动能否计划进行空间?城市文明能否使其领土适应这种新的数字/术生活方式



DIGITAL CITY

The fourth industrial revolution, in the digital / technological, and that is in progress will produce great shocks in social and economic activities, consequently, in the territory of the cities. The technological innovations of this new digital age, in terms of its global scale and its comprehensive form that advances in all walks of life, as well as its complexity and speed, will transform the spaces and life of humanity. And cities will be greatly impacted, as this is the privileged space where the main human activities are concentrated. Urban life will be affected in its sense of belonging and neighborhood, or living and living, when it no longer depends on physical proximity; but rather of a virtual community connected on a digital platform.

The city will be modified when the work is robotized and industrial plants no longer need large flows of workers moving between regions. Trade will not depend on spaces concentrating goods and people, as logistics systems and virtual experimentation of objects will allow everyone to join in a virtual market. The industry with the production of custom objects in 3D printers will be integrated spaces in the urban structure and no more immense factories in the peripheries. The autonomous vehicles will substantially change the urban mobility and the management of the streets and avenues, to the same extent that will change the concept of vehicle as individual patrimony.
 
The living spaces will be a mixture of living, working and leisure with the artificial intelligence and the internet of things. All these possibilities will bring about profound changes and ruptures in housing, production, work, consumption, leisure, transportation and logistics systems, that is, they will cause impacts and discontinuities in the functions and territory of cities. History shows that cities have had only three such large spatial ruptures. The first one, in its origin, when the walls defined a space of security and of the centralized administration, marking the difference with the activity of the field. The second, in the agricultural revolution, after the middle ages, where national states were forming, expanding and demarcating frontiers and allowing cities to extrapolate the walls and consolidate themselves as a territory of commerce and services. The third, in the industrial revolution, when the intensive process of urbanization, concomitant with the large industrial plants of scale production predominating in the territory, provoked intense and deep transformations in the cities.
 
The fourth break in the territory of cities is already approaching the new technological / digital revolution. Are the cities prepared to face the challenges of this new era? Can space be planned for activities in this new phase of humanity? Will the urban civilization be able to adapt its territory to this new digital / technological way of life?

PLANEJAMENTO DA CIDADE

A qualificação da administração pública no Brasil não acompanhou a velocidade do desenvolvimento econômico. Os investimentos imobiliários funcionam como atrativos de pessoas e concentram fluxo de veículos, provocando prejuízos na mobilidade metropolitana e novas demandas em obras públicas. Fica patente um descompasso entre a capacidade dos empreendedores da iniciativa privada na promoção do crescimento das cidades e a incompetência das administrações, notadamente as municipais, em planejar e executar infra-estrutura.
A qualidade de vida urbana depende de um equilíbrio entre os novos empreendimentos imobiliários e o imprescindível planejamento municipal na expansão de obras e serviços públicos. As cidades, dessa forma, crescem desordenadamente, pois não tem gestores que se preocupam com o processo de planejamento.

O político para governar uma cidade deve compreender essa dinâmica espacial com sensibilidade humanista e racionalidade técnica de gestão. Os eleitores precisam entender que o prefeito deve ser um funcionário público com competência administrativa para melhorar a vida urbana. 

sexta-feira, 20 de outubro de 2017


A CIDADE COMPLEXA

A compreensão do fenômeno urbano e a instituição de um imaginário da cidade somente se faz com um pensamento complexo. Esse pensamento complexo pode lançar alguma luz sobre a urbe, enquanto processo de produção social do espaço, e ainda sobre o imaginário da cidade. Portanto, para a constituição desta complexidade urbana na sua totalidade e ao mesmo tempo entender melhor o que é um elemento espacial informacional. Isto é: qualquer elemento construído, natural ou cultural que se percebe através dos sentidos humanos como parte da cidade.
Entretanto, mesmo que na maior parte das cidades as ruas, calçadas e praças embora sejam elementos espaciais reconhecíveis do ponto de vista simbólico, e embora como um repertório espacial humano quase que universal, estes são prenhes de atributos de acordo com a sua localidade, de acordo com aquela cidade específica. Assim, esse valor ou atributo simbólico engendrado nesse elemento urbano cria um imaginário apenas na mesma medida em que este esteja localizado e faça parte de um sistema espacial mais amplo. 
Essa complexificação da sociedade urbana em redes intricadas de relações, por outro lado tende a uma necessidade de homogeneização, uma lógica sistematizada com representações redutoras e, conseqüentemente, simplificadoras. A cidade passa a ter uma imagem reduzida com sentido “hologramático”, onde a parte não somente está no todo, como o todo está inscrito na parte.


quinta-feira, 19 de outubro de 2017

A PÓLIS, A CIDADE E A URBE

A pólis é a essência manifesta de uma vida organizada em sociedade. A instauração primeira de um laço grupal e social da horda primitiva para, juntos, os seres humanos criarem condições de sobrevivência, segurança e meios de produção para suas necessidades vitais. As origens das cidades estão não só apenas nas ruínas de muralhas e restos de alguns utensílios encontrados por arqueólogos. As pegadas deixadas na domesticação da natureza e nessa forma de compartilhar os espaços comuns devem estar alicerçadas na necessidade humana de viver em comunidade. A vida social, como uma gênese da pólis, deve ser uma característica arquetípica da própria existência do ser humano como um novo paradigma

A criação do homem o coloca, desde o início, em um contexto de referência do coletivo, de um outro ser e perante uma outra consciência. A percepção da realidade é, portanto, a relação como uma externalidade do outro, do que está fora e faz sentido à consciência. Antes de tudo tivemos uma predisposição para a vida social compartilhada e um convívio grupal. 

Ora, parece haver uma intenção de convivência social e cooperação em um mesmo espaço para melhor dominar a natureza. Essa organização em grupos sociais parece emergir de um inconsciente primordial de luta pela vida contra a natureza. Entretanto, manter a coesão de um grupo de indivíduos com interesses, às vezes, conflitantes requer a imposição de uma força maior, uma autoridade politicamente reconhecida por todos, ou quase. Assim, o domínio de um território por uma coletividade está indissociavelmente condicionado ao poder de um, ou representação de uma instituição, que concentra a força e impõe o interesse coletivo sobre o individual.

A imagem desta ordem social está, portanto, refletida no espaço desta pólis como um espírito humano. Esta linguagem primordial da forma organizacional de uma sociedade é a função primitiva da cidade como pólis. As estruturas imateriais criadas pelos agrupamentos humanos para sua proteção e reprodução, com melhoria da variabilidade genética e conseqüente aumento do sucesso de sobrevivência, foram argamassa desse sentimento de territorialidade. A intuição de colonização em comunidade e remodelação técnica do ambiente, como os castores e formigas, é importante para depreender a função social de cooperação dos grupos humanos para melhorar o habitat comum, criando um organismo político que se transformou em cidade.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

METRÓPOLE CAPIXABA: METRÓPOLEDO FUTUROA ruptura no territóriodas metr...

Na medida em que essas infraestruturas em tecnologias de informação e comunicação conectem cidadãos, governos, empresas, fábricas, consumo e equipamentos educacionais, as metrópoles serão espaços de experimentação, geração de conhecimentos e pólos transformadores de idéias em valores na economia global.

METRÓPOLE CAPIXABA:
METRÓPOLEDO FUTUROA ruptura no territóriodas metr...
: METRÓPOLE DO FUTURO A ruptura no território das metrópoles provocada pela quarta onda da revolução digital transformará os espaços urb...

METRÓPOLE DO FUTURO

A ruptura no território das metrópoles provocada pela quarta onda da revolução digital transformará os espaços urbanos e a atividade humana. A civilização urbanóide terá de adaptar seu território a essa nova forma de vida tecnológica e isso implicará em repensar o uso e ocupação do solo nas cidades. A amplitude na absorção e implantação dessas novas tecnologias em sua infraestrutura territorial irá diferenciar as metrópoles como lugar de prosperidade e produtora de conhecimento, definindo sua posição na competição global.

O sistema de cabeamento ótico e a banda larga de alta velocidade, com a incorporação de tecnologias digitais no transporte, no consumo e produção de energia. A reciclagem de resíduos sólidos e do saneamento em plataformas digitais, bem como na racionalização de abastecimento, na gestão do trânsito e na segurança pública tornarão a cidade cada vez mais eficiente. Será, pois, a metrópole, um local privilegiado de produção da economia criativa com uma prosperidade compatilhada.

Uma alteração possível será a expansão para uma região maior de influência direta, na medida em que a utilização de plataformas para o trabalho e as alternativas com aplicativos de transportes proporcionarão um espalhamento das cidades. Paradoxalmente, as cidades também necessitarão de espaços de convívio e interação social centralizadores, como bases para congraçamento das comunidades virtuais e as necessárias catarses físicas para consolidação da identidade coletiva.

Essas espacialidades impulsionarão nas metrópoles o policentrismo, onde as comunidades virtuais escolheriam lugares de convívio e troca de experiências grupais. Os eventos combinados em rede aconteceriam em locais (praças, parques ou estações de metro) que não foram inicialmente projetados para essa finalidade, permitindo uma flexibilidade maior no solo e melhor utilização da infrestrutura. Os diversos centros da metrópole também aumentarão suas especializações de acordo com os interesses de grupos ou por serviços, tais como regiões com centros médicos, compras de roupas ou eletrônicos, comidas e conglomerados de educação e treinamento, dentre outros.

Os edifícios serão reprogramáveis, mudando seus usos de acordo com os interesses locais e se adaptando rapidamente às novas atividades demandadas. Ou poderia ter múltiplos usos agendados e controlados digitalmente de acordo com as necessidades das comunidades virtuais, ou seja, um prédio pode ser um centro social, um ginásio, uma feira, uma boate, um teatro, uma escola ou outros usos adaptáveis.


Na medida em que essas infraestruturas em tecnologias de informação e comunicação conectem cidadãos, governos, empresas, fábricas, consumo e equipamentos educacionais, as metrópoles serão espaços de experimentação, geração de conhecimentos e pólos transformadores de idéias em valores na economia global.

METRÓPOLE CAPIXABA: CIDADEDIGITALA quarta revoluçãoindustrial, na form...

A quarta ruptura no território das cidades já se avizinha com a nova revolução tecnológica/digital. As cidades estão preparadas para enfrentar os desafios dessa nova era? O espaço poderá ser planejado para as atividades nessa nova fase da humanidade? A civilização urbanóide conseguirá adaptar seu território a essa nova forma de vida digital/tecnológica?



METRÓPOLE CAPIXABA: CIDADEDIGITALA quarta revoluçãoindustrial, na form...: CIDADE DIGITAL A quarta revolução industrial, na forma digital/tecnológica, e que está em andamento irá produzir grandes abalos nas a...

terça-feira, 10 de outubro de 2017


                          CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO DA CIDADE 

 O imaginário da cidade é uma questão característica da representação, como um mapa hologramático ou uma cartografia simbólica de uma memória atemporal, manifestando-se no fazer histórico do espaço urbano e na instituição de um universo de significações. No entanto, sua importância pode ser sentida nas iconografias, relatos, descrições, mapas mentais, ou seja, produtos de subjetividade. Todas as expressões de arte são catalisadores dessa formação imaginária da cidade, nas suas diversas formas representativas (literatura, pintura, escultura, cinema, moda, mídia e etc), passando pela educação formal, as manifestações de cultura popular (lendas, folclore, crendices, mitos e etc), a cultura erudita (clássicos, estética, academia, etc), as novas tecnologias de informação e comunicação, chegando-se a uma identidade cultural representada pelo patrimônio arquitetônico, paisagístico e urbano.  
Os diversos cibermapas simbólicos produzidos, tais como marcas, filmes, propaganda, mídias, brasões, folhetos turísticos, epítetos e outros elementos de grande força imagética ajudam a compor esse imaginário. Essa ubiqüidade e ausência deste objeto como unidade, enquanto pluralidade social fragmentada, deixam evidente que o imaginário da cidade é apenas percebido com a onipresença de nossa consciência corporificada em seu espaço-tempo. 
A cidade como produto do trabalho humano sobre o espaço se forma e se apropria das memórias criadas pelas vivências das comunidades e dos indivíduos. A identidade do cidadão com o seu espaço urbano é estabelecida na medida em que haja uma percepção de pertencimento a uma comunidade, estabelecendo vínculos que o identifica com os outros. O cotidiano urbano promove uma intensa experiência social do lugar e isto cria imensa carga emocional com os espaços tornando-os dispositivos simbólicos, ou seja, carregados de significação. O cotidiano é a vivência da cidade e suas inter-relações estabelecidas nessa familiaridade do indivíduo com e no espaço. É claro que esta cotidianidade cria e nutre um espaço de memória coletiva construída por uma narratividade espaço-temporal.
Esse espírito do lugar vai além das pessoas, das árvores, das instituições políticas, dos montes e dos diversos elementos e estruturas espaciais urbanas. É esse entrelaçamento das memórias que fervilham na cidade e  formam a simbologia urbana. Essa é, portanto, a essência da cidade contemporânea, ou seja, sua multiplicidade. A cidade, desse modo, armazena uma imensa e infinita quantidade de memória e que se transforma em uma poética urbana, isto é, em subjetividade. Ainda, é possível entender essa mítica da cidade através de duas redes de significação: pelos gestos e relatos. Os gestos dessa experimentação cotidiana do espaço da cidade constroem histórias e traçam as memórias do lugar. Nos gestos aparentemente banais de uma consciência individual no universo espaço-temporal, tal como o andar, o lazer, o trabalho, o morar, os eventos e as recordações retro-alimentam essa imagética da cidade, ou seja, as memórias dos lugares narram uma tradição e uma cultura reconhecidas socialmente.


sexta-feira, 6 de outubro de 2017

A imagem pode conter: céu, árvore, house e atividades ao ar livre

O IMAGINÁRIO DA CIDADE

A LEGISLAÇÃO COMO PACTO SOCIOAMBIENTAL EM VILA VELHA


Os elementos históricos e culturais, que configuraram o imaginário da cidade de Vila Velha/ ES, estão também legitimados socialmente nas leis municipais. Estas legislações urbanísticas e ambientais, no período de 1948 a 2008, foram organizadas e sistematizadas com enfoque nestes elementos. Foram categorizadas como: desenvolvimento urbano, quando tratam da manutenção e melhorias do tecido urbano e das ambiências de certas áreas da cidade; ambientais quando procuram identificar elementos de interesse paisagístico ou ecológico e que caracterizam o sítio geográfico da ocupação urbana; leis de planejamento quando regulamentam o parcelamento, o uso e a ocupação do solo. E ainda leis de gestão da cidade, quando abordam os arranjos institucionais e as estruturações administrativas, fiscalização e controle do uso e ocupação do território. Parte desse instrumental jurídico-legal objetiva a preservação de um patrimônio coletivo em contraposição ao processo de renovação e especulação urbanas.
A história da “cidade em si” em meio ao processo de construção de um novo território urbano, em conjunto com a cidade precedente, como diz Giovannoni (1995), fica explicitada nestas tentativas de preservação socioambiental de elementos paisagísticos, urbanísticos, arquitetônicos, artísticos, históricos e simbólicos que a legislação identifica e, de certa forma, protege. O pacto socioambiental de Vila Velha, representado pela legislação, principalmente no Plano Diretor Municipal – PDM trata da preservação do patrimônio, reafirmando estes elementos que compõem a memória coletiva e constituem a identidade desta comunidade. Os cidadãos, pois, se constroem e se reinventam com os significados e atributos do conjunto destes elementos, com a “[...] identificação simbólica por parte de um ator social [...]” (CASTELLS, 2008, p. 25) com seu patrimônio histórico, cultural e ambiental. O pacto socioambiental legitimado no plano diretor através do embate entre os interesses econômicos, políticos e a organização da sociedade civil mantém alguns desses elementos preservados no tecido urbano.
Alguns elementos estruturantes do solo urbano tais como a estrutura fundiária do território, a construção civil, os ciclos econômicos e as obras públicas, de certa forma, condicionam o processo de produção do espaço urbano e direcionaram a ocupação e o uso do solo. Assim, buscou-se compreender em que medida as formulações destas legislações urbanísticas e ambientais no município poderiam ser configuradas enquanto um pacto urbano que veio regular o parcelamento, o uso e a ocupação do solo ou somente legitimar o processo de especulação imobiliária. Esse pacto emerge das articulações políticas entre as forças sociais da sociedade civil organizada, os agentes econômicos e os representantes políticos como reação ao intenso processo de urbanização do município ou como forma de consolidar as potencialidades de uma indústria da construção civil emergente. Assim a pesquisa levantou e sistematizou as legislações urbanísticas e ambientais de modo que possibilitem comparativos entre as históricas transformações na ocupação do solo urbano e a instituição de um pacto socioambiental, bem como sua importância no processo do planejamento urbano em Vila Velha.
Desse modo, discute três questões principais, quais sejam:
1- As legislações urbanísticas e ambientais podem ser consideradas enquanto um pacto socioambiental?
2 - Qual a importância do patrimônio histórico e ambiental para a instituição de um imaginário da cidade no pacto socioambiental?
3 - Em que medida este pacto socioambiental em Vila Velha / ES consolidou instrumentos de planejamento urbano?

A pesquisa mostra que os principais elementos que compõem o patrimônio histórico, cultural e ambiental da cidade de Vila Velha estão identificados e refletidos nas suas leis, no período estudado desde a colonização portuguesa em 1948 até 2008, como uma “cartografia simbólica”, no conceito de Boaventura Santos (2007). Deste modo, o planejamento urbano como lei assume importante papel em manter o tecido urbano conectado ao mapa emocional de sua identidade socioambiental e, ao mesmo tempo, harmonizar os diversos interesses coletivos que devem ser pactuados no uso e ocupação do solo, principalmente na modernização da cidade e o processo de especulação com a terra urbana, em contraponto com a cidade histórica. Estes elementos do imaginário socioambiental da cidade delimitados e identificados nas leis urbanísticas e ambientais têm garantido, de certo modo, sua preservação e devem ser divulgados, conservados e fiscalizados pela população.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

CIDADE DIGITAL

A quarta revolução industrial, na forma digital/tecnológica, e que está em andamento irá produzir grandes abalos nas atividades sociais e econômicas, conseqüentemente, no território das cidades. As inovações tecnológicas dessa nova era digital, em função de sua escala global e da sua forma abrangente que avança em todos os setores da vida, bem como sua complexidade e velocidade, transformarão os espaços e a vida da humanidade. E as cidades serão grandemente impactadas, na medida em que este é o espaço privilegiado onde se concentram as principais atividades humanas.

A vida urbana será afetada no seu sentido de pertencimento e vizinhança, ou o morar e conviver, quando não mais depender da proximidade física; mas sim de uma comunidade virtual conectada em uma plataforma digital. A cidade será modificada quando o trabalho for robotizado e as plantas industriais não mais necessitarem de grandes fluxos de trabalhadores se deslocando entre regiões. O comércio não dependerá de espaços concentrando mercadorias e pessoas, pois os sistemas de logística e a experimentação virtual de objetos permitirão juntar todos em um mercado virtual. A indústria com a produção de objetos personalizados em impressoras 3D serão espaços integrados na estrutura urbana e não mais imensas fábricas nas periferias.  Os veículos autônomos alterarão substancialmente a mobilidade urbana e a gestão das ruas e avenidas, na mesma medida em que mudará o conceito de veículo como patrimônio individual. Os espaços de moradia serão um misto de viver, trabalhar e lazer com a inteligência artificial e a internet das coisas. Todas essas possibilidades trarão mudanças profundas e rupturas no morar, na produção, no trabalho, no consumo, no lazer, nos transportes e sistemas logísticos, ou seja, provocarão impactos e descontinuidade nas funções e no território das cidades.

A história mostra que as cidades tiveram apenas três dessas grandes rupturas espaciais. A primeira, na sua origem, quando as muralhas definiam um espaço de segurança e da administração centralizada, marcando a diferença com a atividade do campo. A segunda, na revolução agrícola, depois da idade média, onde estavam se formando os estados nacionais expandindo e demarcando fronteiras e permitiram que as cidades extrapolassem os muros e se consolidassem como território do comércio e de serviços. A terceira, na revolução industrial, quando o processo intensivo de urbanização, concomitante com as grandes plantas industriais da produção em escala predominando no território, provocaram intensas e profundas transformações nas cidades.


A quarta ruptura no território das cidades já se avizinha com a nova revolução tecnológica/digital. As cidades estão preparadas para enfrentar os desafios dessa nova era? O espaço poderá ser planejado para as atividades nessa nova fase da humanidade? A civilização urbanóide conseguirá adaptar seu território a essa nova forma de vida digital/tecnológica?

segunda-feira, 10 de julho de 2017

A cidade de Vitória vai projetar seu desenvolvimento sustentável para o futuro no novo PDU ou vai esvaziar o  crescimento econômico do seu território perdendo a centralidade metropolitana??!!

quarta-feira, 31 de maio de 2017

CIDADE DEVORA TURISTA

O homem transformou a natureza e começou a praticar a agricultura. Acompanhou as caravanas cruzando desertos, montanhas, rios e desenvolveu o comércio entre os povos. Nos cruzamentos das estradas, nos acampamentos de pernoite e nos portos criou suas vilas e cidades. Nesses aglomerados de pessoas inventou máquinas maravilhosas e montou fábricas.

As cidades industriais atraíram muitas pessoas com as promissoras miragens do progresso. A vida urbana é a forma comum do homem dominar a natureza. As atividades humanas no solo das cidades provocam um desgaste imenso. Assim, o uso e a ocupação do solo urbano se apresentam como reflexo das atividades econômicas e sociais.

 As cidades são um organismo vivo, criado e alimentado pelos homens para satisfazer suas necessidades, como ser social.  Mas os urbanistas já alertam para o ”câncer” que a criatura está apresentando em suas entranhas de periferias sem saneamento, de ruas violentas, de praias poluídas, de esgotos escorrendo pelas valas e da destruição dos mangues, rios e florestas. Como não há planejamento, as cidades incham e se mantêm impassíveis no seu desafio de esfinge: “Decifra-me ou te devoro”.

A promoção do turismo com um conceito responsável de ecologia propicia o desenvolvimento dessa atividade econômica importante, comprometida com a preservação da natureza e também com o bem estar do homem. Entretanto, tem-se falado em planejamento turístico sem que se arranhe de leve na condição primeira para o desenvolvimento da atividade: o planejamento da cidade.

A indústria do turismo pode não poluir, mas é tão degradante como outra qualquer. Altera o equilíbrio entre a oferta de serviços públicos, equipamentos e infra-estrutura, provocando colapsos no fornecimento de água, luz e no abastecimento. Aumenta a quantidade de lixo nas ruas e sobrecarrega o sistema de esgotamento sanitário. 

No ano de 2001, o Estatuto das Cidades consolidou uma visão holística sobre a urbanização e a sua interação com a natureza. Tratou as cidades com uma dimensão humana e social. Mas poucas cidades têm hoje um plano para ordenar o seu crescimento e manter sua ambiência o que, na maioria das vezes, é o seu maior atrativo turístico.

Portanto, o turismo é mais uma das atividades econômicas que se inserem no contexto da urbanização e deve, pois, ser tratado de maneira a se aproveitar de seus benefícios e minimizar os decorrentes prejuízos sociais e ambientais. Deve ser encarado com responsabilidade e, para isso, o passo mais importante é a elaboração de um plano urbano com o compromisso da sua comunidade com o futuro. 

 Assim o turista poderá contemplar, do alto de uma montanha verdejante, a cidade a seus pés e decifrar toda a sabedoria que seus cidadãos demonstram no amor à sua criação. 

sábado, 27 de maio de 2017

UNIDADE METROPOLITANA


A discussão sobre a Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV) vem se arrastando ao longo de décadas. Entra e sai governo e as coisas não saem do lugar. Algumas conquistas aparecem pontualmente aqui e ali, mas não conseguem efetivamente modificar a situação de caos urbano, formado nesse aglomerado de pessoas, coisas e interesses. Ao longo do tempo, enquanto a problemática urbana se complicava na região metropolitana, as fórmulas institucionais propostas não saíam do papel. A integração geográfica acontece de fato com os problemas comuns, mas encontra barreiras legais e políticas nos limites da autonomia municipal. 

Em 1991, durante o curso de pós-graduação em Políticas Públicas, na UFES, defendi a idéia de unificação metropolitana dos cinco municípios em um só ente político-administrativo. O despretensioso trabalho acadêmico partia da premissa de que a centralização do poder político e a pujança econômica deste novo município metropolitano, fruto da unificação, dariam estatura e condições suficientes para enfrentar os graves problemas urbanos da região. Ressaltava que o maior entrave da RMGV era a repartição do poder entre os  municípios, todos com quase o mesmo peso político. 

No início do ano de 2001, fizemos um outro artigo sobre o “Poder Metropolitano”, em que sintetizamos a questão da RMGV, fundamentando-a em um tripé. O primeiro pilar deste tripé era a efetivação de um fórum decisório representativo. O segundo, a formulação de um instrumento técnico de planejamento. E o terceiro, a criação de um fundo de desenvolvimento metropolitano. 

O Governo do Estado, ainda na campanha eleitoral, assumiu para si o papel de capitanear este processo de implantação da RMGV, propondo uma nova cara para a velha legislação sobre o assunto. Parece que a problemática será equacionada novamente sem a discussão da unificação dos municípios. Mas é sempre bom aproveitar esses momentos de vazio da ação governamental para se repensar a RMGV e recolocar a questão da unificação metropolitana.  

A cada problema colocado para boicotar esta idéia da unificação pode-se ter argumentos e exemplos de como isto é institucionalmente provável, administrativamente plausível e constitucionalmente possível. Entretanto, politicamente seriam outros os fatores a influenciar a tomada de decisão nesta direção, pois os mandatários atuais e os potenciais têm interesses eleitoreiros e de curto alcance.
 
É claro que do ponto de vista de reestruturação administrativa o poder público metropolitano é mais racional em sua ação unificada e, com certeza, iria melhorar a operacionalidade dos serviços prestados à população. Isto tudo sem contar a justiça na repartição dos recursos públicos e a economia na gestão dos serviços básicos com o uso compartilhado de funcionários, equipamentos e custeio. Entretanto, sem uma fundamentação técnica e um projeto de lei estadual definindo este novo pacto político metropolitano a proposta cai no vazio, principalmente se não houver vontade política do executivo e a disposição responsavelmente compartilhada no legislativo.

Hoje, tenho convicção de que o caminho do remembramento dos municípios é o modo mais eficaz para solucionar os entraves do desenvolvimento sustentável da Grande Vitória. Faz-se necessária uma postura despojada e criativa, principalmente na história política contemporânea do Estado, com essa nova safra de homens públicos. Os deputados metropolitanos têm um compromisso com o futuro da moderna metrópole unificada. Eles têm  credibilidade e legitimidade para, no mínimo, enfrentar esse novo paradigma.
 
Em algum momento da história essa ideia irá ser uma solução simples e prática, como alguns princípios na história da evolução humana e urbana.      

segunda-feira, 1 de maio de 2017



VALOR DA CIDADE

Empreendimentos e infraestrutura, em determinadas regiões da cidade, propiciam a valorização ou a depreciação do seu entorno. Por exemplo, a construção de um shopping ou de uma avenida pode aumentar o valor de imóveis no seu entorno. E, por outro lado, a implantação de indústrias, cemitério ou estação de tratamento de esgotos podem diminuir o valor das edificações na vizinhança. Toda nova atividade no espaço da cidade pode gerar benefícios atraindo outros negócios para perto, aumentando o valor dos terrenos vizinhos, ou trazer prejuízos com barulho, poluição, tráfego intenso e outros incômodos fazendo, pois, cair o valor dos imóveis.
Estas sinergias ou conflitos no território da cidade são naturais e, em certa medida, correspondem ao dinamismo das atividades econômicas que se estabelecem com sua interação social e tendo como mediador o governo da cidade. Os municípios são responsáveis constitucionalmente pelo planejamento do uso e ocupação do solo urbano, através dos Planos Diretores, e devem atuar diligentemente sobre o assunto. Ora exigindo que sejam realizadas as melhorias e acessos no sistema viário na região do empreendimento mitigando seus impactos, ora fazendo outras obras para melhorar os serviços públicos do entorno.
No entanto, fica patente um descompasso entre os novos empreendimentos e a incompetência de algumas administrações públicas no planejamento do território.  Existe uma diferença entre a velocidade de construção destes empreendimentos privados e a morosidade governamental na execução da infraestrutura necessária para a região. Também piora porque os PDM’s das cidades estão sufocando as atividades de comércios e serviços de bairros, banindo também as atividades industriais do seu território. Esse equívoco tem provocado o aparecimento de cidades sem atividade econômica e com custos de manutenção de infraestrutura cada vez maiores. O gestor do município deve essencialmente ser um bom administrador e deve compreender essa dinâmica espacial com sensibilidade humanista e racionalidade técnica para que a cidade tenha uma gestão competente e um desenvolvimento econômico dinâmico com qualidade de vida. 

quinta-feira, 20 de abril de 2017

CIDADE ROUBADA


As cidades brasileiras foram pilhadas desde tempos imemoriais. Mas isso se intensificou a partir do processo de urbanização surgido a partir da década de 70/80 do século passado. A situação da desordem urbana foi acirrada por inúmeras ocupações irregulares, clandestinas e invasões de terras sem nenhuma ação do poder público. Por outro lado, os donos de latifúndios e terras urbanas se aproveitaram da incapacidade ou conivência das prefeituras para lucrar mais promovendo essas ocupações irregulares.
Hoje em dia a ocupação do solo urbano tornou-se um caso criminoso de apropriação indébita do patrimônio de todos. A cidade tem suas terras públicas roubadas cotidianamente pela especulação imobiliária com a cumplicidades das prefeituras e a omissão do Ministério Público. Isso acontece com o descumprimento da Lei Federal n. 6766/79, da Lei Estadual do parcelamento do solo e dos Planos Diretores dos Municípios, na medida em que essas legislações estabelecem os percentuais mínimos para áreas públicas de lazer (Praças, parques e áreas verdes), áreas públicas de equipamentos urbanos (como terrenos para escolas, creches, hospitais, delegacias e postos de saúde), além das áreas públicas para avenidas, rotatórias e ruas largas.
Assim, a discussão ambiental fica desfocada, na medida em que exige das prefeituras proibir ocupações de áreas da cidade com o discurso de preservação do verde, mas não colocam a questão das áreas legalmente definidas na lei do parcelamento do solo urbano para praças e parques. Também a questão das demandas comunitárias por equipamentos, tipo creches, escolas e postos de saúde, camufla a falta de terrenos que a lei obrigatoriamente exige dos proprietários de terras urbanas para parcelar. E ainda, o debate da mobilidade urbana não toca nesse assunto dos percentuais de áreas para as vias que não são deixadas nos loteamentos ou desmembramentos de glebas da cidade. Isso é uma forma de fugir da verdadeira causa do problema que é a falta de vias largas, avenidas e interligação de bairros da cidade.
A causa da falta de áreas verdes, praças e parques, bem como a inexistência de terrenos para construir creches, escolas e postos de saúde é o descumprimento das legislações que exigem essas áreas públicas na cidade.
Como atuam essas máfias nas prefeituras?
Existem várias formas de atuação. Uma delas é com um loteamento já aprovado a muitos anos, mas não implantado, ou seja, o loteador não abriu as ruas e nem demarcou as áreas de praças e equipamentos urbanos definidos no decreto de aprovação. Desse modo o loteador, junto com um funcionário público comparsa dentro do cadastro imobiliário municipal, inscreve parte dessa gleba já loteada como se fosse um outro terreno comum. Assim, todas as áreas de ruas e praças dentro dessa parte do loteamento simplesmente somem, desaparecem. Mas o loteador as reincorpora, isto é, se apropria de parte das áreas públicas com a conivência do cadastro municipal. Depois disso, o loteador requer da própria prefeitura um novo decreto de desmembramento dessa área sem repassar vias e áreas públicas. O setor que analisa o desmembramento, conivente, não verifica as informações sobre loteamentos anteriores, porque já tem uma inscrição oficial do cadastro municipal. Dessa forma a “nova área” é “legalizada” pela própria administração municipal com a apropriação indébita para o loteador dessas áreas públicas. Depois, com a participação de Cartórios de registro de imóveis finalizam a farsa com uma nova escritura desse terreno, sem que o cartório verifique se existem outros registros de loteamentos anteriores na mesma área.
Outra forma de atuação das máfias dos cadastros municipal é aceitar novas vias abertas sem leis e decretos oficiais. Apenas inscrevem uma atividade urbana em um terreno, tipo um galpão de marcenaria, com frente para uma rua que afirmam existir na região. Depois, com essas informações do cadastro municipal, o dono da terra requer um desmembramento do terreno sem precisar abrir ruas ou deixar áreas públicas. A prefeitura aprova o desmembramento em novo decreto e assim seguem para o registro no cartório, sem qualquer verificação. Dessa forma, também desaparecem as áreas públicas exigidas nas leis Federal, Estadual e Municipal.
Essas são, sinteticamente, apenas algumas formas de burlar a legislação para roubar o patrimônio público. O prejuízo da população é imenso, pois além de ter suas áreas roubadas por especuladores urbanos com a cumplicidade das prefeituras, ainda pagam uma segunda vez quando a administração desapropria terrenos para construção de creches, escolas ou aberturas de vias pagas recursos dos impostos. E ainda tem de viver em uma cidade com vias estranguladas e obstaculizadas sem mobilidade urbana. Com bairros sem terrenos para construção de escolas, creches ou postos de saúde e com serviços públicos deficientes. Ou sem praças e parques para o lazer e convivência social. Dessa associação perniciosa entre o especulador imobiliário e uma administração municipal cúmplice forma-se uma organização criminosa que prejudica a população e a qualidade de vida subtraindo das cidades os espaços públicos.

Apenas com uma atuação eficiente de fiscalização das Promotorias Municipais de Urbanismo do Ministério Público Estadual poder-se-ia estancar esse verdadeiro roubo da cidade e da cidadania.

* Ilustração Amarildo, em A Gazeta.

domingo, 9 de abril de 2017


DINAMISMO CAPITAL


A capital Vitória vem perdendo a cada ano a participação na fatia do ICMS (imposto circulação de mercadorias e serviços) distribuída pelo estado. Esse índice de Participação dos Municípios (IPM) é o retrato das atividades econômicas no território de cada cidade. A fuga de empresas e a perda de atividades no território de Vitória comprova que a cidade vem regredindo. O melhor reflexo do desenvolvimento de uma cidade é sua capacidade de ter uma economia dinâmica que produz bens, serviços, gera trabalho e renda para seus cidadãos.
Essa não é uma situação circunstancial ou explicada por uma crise passageira, pois cidades da região metropolitana como Serra, Vila Velha e Cariacica tem seus índices de dinamismo econômico aumentados, acelerando o crescimento e desenvolvimento destas cidades.  Trata-se de um esvaziamento da cidade que é reflexo de políticas urbanas equivocadas, de administrações inoperantes e de restrições no uso e ocupação do solo perpetrados erroneamente pelo PDU (Plano Diretor Urbano). 

sábado, 8 de abril de 2017

O PORTO E A PORTA

A Vila da Ilha de Nossa Senhora da Vitória nasceu do porto. O cais foi porta privilegiada que ligava a colônia Espírito Santo ao velho mundo. A cidade-porto cresceu até começarem os conflitos pela falta de espaços para expansão das atividades urbanas e portuárias. A partir da década de 80 iniciou-se um processo de esvaziamento e deterioração qualitativa do centro. Houve um deslocamento das suas funções urbanas típicas para a região norte-litorânea da ilha e criou-se um novo centro metropolitano na Enseada do Suá.
Com a ideia de revitalização do antigo centro, surge a proposta de utilização dos galpões do porto para atividades culturais, artísticas e promoção do turismo. Entretanto, esse projeto tem um ponto de vista urbanístico desfocado, pois pretende criar uma atividade em detrimento de outra. Parece também equivocado ao basear-se no fato de que outras cidades fizeram o mesmo com seus antigos portos, só que eram espaços que não cumpriram mais sua função. Não é o caso do porto de Vitória, que continua imprescindível neste novo ciclo capixaba de desenvolvimento baseado no petróleo e na expansão de serviços. Parece ilógico “revitalizar” o antigo centro com atividades culturais comprometendo a expansão dos serviços portuários. Deve-se, ainda, atentar para o fato de que muitos equipamentos de lazer e cultura já estão situados na Enseada do Suá, reforçando sua função de novo centro social e político.
O antigo centro perdeu sua função urbanística de pólo de serviços e de administração estadual, mas manteve seu potencial portuário. As administrações da cidade e do porto precisam integrar seus objetivos para o desenvolvimento econômico e social. Dever-se-ia aproveitar a oportunidade desse rearranjo territorial da metrópole e revigorar  o antigo centro como espaço de suporte às atividades portuárias, turísticas e petrolíferas. Poder-se-ia, através  do PDU e do Código Tributário, incentivar a implantação de serviços de comércios, de despachantes, de suprimentos, de escritórios aduaneiros, de empresas de logística e de muitas outras atividades culturais e turística. Ou apoiar as potencialidades portuárias, petrolíferas, turismo náutico e de exportação para revitalizar ou requalificar melhor esse espaço. Ou com o uso deste espaço para lazer e cultura fechar-se-ia a porta ao novo ciclo de desenvolvimento baseado no porto?

segunda-feira, 3 de abril de 2017

A MORTE DAS CIDADES

A falência urbana de Detroid, nos EUA, comprova que a cidade e a economia são interdependentes. O debate sobre a cidade moderna, ao longo das últimas décadas, tem sido como se o espaço urbano fosse apenas de expansão de moradias “dignas” e ampliação de áreas verdes para “qualidade de vida”. Esse discurso “politicamente correto” desvirtuou equivocadamente o cerne da questão urbana para um discurso infantilizado de “miss universo” e idiotamente incorreto.

O urbanismo, enquanto área do conhecimento, conceitua o espaço urbano como território de uma economia baseada nas atividades institucionais, administrativas, comerciais, industriais e de serviços. As cidades foram se especializando em uma ou mais destas atividades, estruturando seu território de acordo com o desenvolvimento dos ciclos da economia. A cidade é uma infraestrutura artificial criada pelo homem para produção de bens e serviços comunitários, com a função de gerar riquezas e renda para os cidadãos e arrecadar tributos para investimentos em melhorias dos serviços urbanos. Como diria Mestre Milton Santos, a cidade é uma “prótese” humana sobre a natureza para permitir a vida em sociedade.

O discurso fundamentalista ambiental e doutrinário esquerdizante está paulatinamente sufocando as atividades econômicas no espaço urbano. Não se trata de defender a poluição nas cidades e nem a degradação das cidades pela ocupação desordenada, mas apenas de recolocar a discussão em um patamar realista sobre a essencial função da cidade. Ou seja, como poderia melhorar a qualidade de vida urbana com controle de poluição e novas tecnologias limpas. Como desenvolver as atividades de serviços e indústrias compatibilizando com áreas de lazer e convívio social. Como expandir a cidade mantendo e ampliando as atividades econômicas que geram riquezas e renda para os cidadãos. Como crescer a cidade mantendo a qualidade dos serviços de transporte coletivo, saneamento básico, segurança, lazer, saúde e educação.

Em processos recentes de planejamento urbano e na elaboração de planos diretores municipais tem-se retirado silenciosamente do zoneamento urbanístico as atividades industriais e restringindo enormemente as áreas comerciais. As atividades de serviço, em simbiose com o comércio, também estão sendo banidas das áreas residenciais com o discurso equivocado de segurança e mobilidade urbana. Trata-se de uma visão distorcida da vida urbana, onde um discurso segregacionista ultrapassado e com pitadas popularescas verde pretendem uma cidade apenas de morar. A mobilidade urbana virou um tormento para deslocamentos cada vez maiores entre a moradia, o trabalho e outras atividades.

Estão tratando as cidades como se fossem um problema e, na verdade, elas representam a essencial dinâmica da vida em comunidade. A cidade é uma invenção da civilização a mais de dez mil anos e permitiu, com seu território multiuso, o desenvolvimento econômico e do conhecimento humano. As dificuldades de mobilidade urbana, segurança, saneamento e outras não são consequência da cidade, mas são simplesmente problemas de má gestão das administrações públicas.

A retórica verde simplista da “qualidade de vida decorrente da preservação ambiental” está retirando o essencial da vida urbana que é a concentração e complexidade das atividades humanas no território, característica principal para o desenvolvimento da cidade. É necessário entender o território urbano como função econômico-social, pois de outra forma estar-se-ia matando a cidade.