terça-feira, 10 de outubro de 2017


                          CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO DA CIDADE 

 O imaginário da cidade é uma questão característica da representação, como um mapa hologramático ou uma cartografia simbólica de uma memória atemporal, manifestando-se no fazer histórico do espaço urbano e na instituição de um universo de significações. No entanto, sua importância pode ser sentida nas iconografias, relatos, descrições, mapas mentais, ou seja, produtos de subjetividade. Todas as expressões de arte são catalisadores dessa formação imaginária da cidade, nas suas diversas formas representativas (literatura, pintura, escultura, cinema, moda, mídia e etc), passando pela educação formal, as manifestações de cultura popular (lendas, folclore, crendices, mitos e etc), a cultura erudita (clássicos, estética, academia, etc), as novas tecnologias de informação e comunicação, chegando-se a uma identidade cultural representada pelo patrimônio arquitetônico, paisagístico e urbano.  
Os diversos cibermapas simbólicos produzidos, tais como marcas, filmes, propaganda, mídias, brasões, folhetos turísticos, epítetos e outros elementos de grande força imagética ajudam a compor esse imaginário. Essa ubiqüidade e ausência deste objeto como unidade, enquanto pluralidade social fragmentada, deixam evidente que o imaginário da cidade é apenas percebido com a onipresença de nossa consciência corporificada em seu espaço-tempo. 
A cidade como produto do trabalho humano sobre o espaço se forma e se apropria das memórias criadas pelas vivências das comunidades e dos indivíduos. A identidade do cidadão com o seu espaço urbano é estabelecida na medida em que haja uma percepção de pertencimento a uma comunidade, estabelecendo vínculos que o identifica com os outros. O cotidiano urbano promove uma intensa experiência social do lugar e isto cria imensa carga emocional com os espaços tornando-os dispositivos simbólicos, ou seja, carregados de significação. O cotidiano é a vivência da cidade e suas inter-relações estabelecidas nessa familiaridade do indivíduo com e no espaço. É claro que esta cotidianidade cria e nutre um espaço de memória coletiva construída por uma narratividade espaço-temporal.
Esse espírito do lugar vai além das pessoas, das árvores, das instituições políticas, dos montes e dos diversos elementos e estruturas espaciais urbanas. É esse entrelaçamento das memórias que fervilham na cidade e  formam a simbologia urbana. Essa é, portanto, a essência da cidade contemporânea, ou seja, sua multiplicidade. A cidade, desse modo, armazena uma imensa e infinita quantidade de memória e que se transforma em uma poética urbana, isto é, em subjetividade. Ainda, é possível entender essa mítica da cidade através de duas redes de significação: pelos gestos e relatos. Os gestos dessa experimentação cotidiana do espaço da cidade constroem histórias e traçam as memórias do lugar. Nos gestos aparentemente banais de uma consciência individual no universo espaço-temporal, tal como o andar, o lazer, o trabalho, o morar, os eventos e as recordações retro-alimentam essa imagética da cidade, ou seja, as memórias dos lugares narram uma tradição e uma cultura reconhecidas socialmente.


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