segunda-feira, 3 de abril de 2017

A MORTE DAS CIDADES

A falência urbana de Detroid, nos EUA, comprova que a cidade e a economia são interdependentes. O debate sobre a cidade moderna, ao longo das últimas décadas, tem sido como se o espaço urbano fosse apenas de expansão de moradias “dignas” e ampliação de áreas verdes para “qualidade de vida”. Esse discurso “politicamente correto” desvirtuou equivocadamente o cerne da questão urbana para um discurso infantilizado de “miss universo” e idiotamente incorreto.

O urbanismo, enquanto área do conhecimento, conceitua o espaço urbano como território de uma economia baseada nas atividades institucionais, administrativas, comerciais, industriais e de serviços. As cidades foram se especializando em uma ou mais destas atividades, estruturando seu território de acordo com o desenvolvimento dos ciclos da economia. A cidade é uma infraestrutura artificial criada pelo homem para produção de bens e serviços comunitários, com a função de gerar riquezas e renda para os cidadãos e arrecadar tributos para investimentos em melhorias dos serviços urbanos. Como diria Mestre Milton Santos, a cidade é uma “prótese” humana sobre a natureza para permitir a vida em sociedade.

O discurso fundamentalista ambiental e doutrinário esquerdizante está paulatinamente sufocando as atividades econômicas no espaço urbano. Não se trata de defender a poluição nas cidades e nem a degradação das cidades pela ocupação desordenada, mas apenas de recolocar a discussão em um patamar realista sobre a essencial função da cidade. Ou seja, como poderia melhorar a qualidade de vida urbana com controle de poluição e novas tecnologias limpas. Como desenvolver as atividades de serviços e indústrias compatibilizando com áreas de lazer e convívio social. Como expandir a cidade mantendo e ampliando as atividades econômicas que geram riquezas e renda para os cidadãos. Como crescer a cidade mantendo a qualidade dos serviços de transporte coletivo, saneamento básico, segurança, lazer, saúde e educação.

Em processos recentes de planejamento urbano e na elaboração de planos diretores municipais tem-se retirado silenciosamente do zoneamento urbanístico as atividades industriais e restringindo enormemente as áreas comerciais. As atividades de serviço, em simbiose com o comércio, também estão sendo banidas das áreas residenciais com o discurso equivocado de segurança e mobilidade urbana. Trata-se de uma visão distorcida da vida urbana, onde um discurso segregacionista ultrapassado e com pitadas popularescas verde pretendem uma cidade apenas de morar. A mobilidade urbana virou um tormento para deslocamentos cada vez maiores entre a moradia, o trabalho e outras atividades.

Estão tratando as cidades como se fossem um problema e, na verdade, elas representam a essencial dinâmica da vida em comunidade. A cidade é uma invenção da civilização a mais de dez mil anos e permitiu, com seu território multiuso, o desenvolvimento econômico e do conhecimento humano. As dificuldades de mobilidade urbana, segurança, saneamento e outras não são consequência da cidade, mas são simplesmente problemas de má gestão das administrações públicas.

A retórica verde simplista da “qualidade de vida decorrente da preservação ambiental” está retirando o essencial da vida urbana que é a concentração e complexidade das atividades humanas no território, característica principal para o desenvolvimento da cidade. É necessário entender o território urbano como função econômico-social, pois de outra forma estar-se-ia matando a cidade.

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