segunda-feira, 6 de novembro de 2017


A POLÍTICA E A CIDADE

O pensador grego da antiquidade que formou a base do pensamento moderno sobre a política foi Platão (428 a.c – 387 a.c). Em seus Diálogos, Platão refunda o pensamento político grego e inventa esquemas imaginários de poder. Em A República (433 a.c) Platão estará fundamentando o direito na cidade-estado grega, onde a justiça é o fato de que o conjunto da cidade está bem dividido, bem articulado, e que nesse conjunto da cidade cada um tem o seu lugar e não tenta tomar o de outro. Desse modo, a hierarquia da cidade reafirma a natureza diferente dos indivíduos que compõem a cidade-estado, justificando dessa forma a divisão em classes e a ocupação diferenciada do território da cidade.
Em A República, estar-se-ia tentando uma aproximação para definir a boa cidade, uma idealização. Poder-se-ia dizer que em A República fundamenta-se toda a ideia da ciência do urbanismo com suas divisões, setorizações, zoneamentos e hierarquizações do espaço. Nesse primeiro momento do pensamento platônico, a cidade é um conceito puro, como a verdade e a beleza, onde a funcionalidade e a boa forma da cidade pudessem ser trabalhadas em um conceito técnico, onde no grego thecné se aproxima de uma ideia de arte. Parece óbvia a coincidência desse pensamento clássico do filósofo grego com uma gênese narrativa do urbanismo moderno.
De acordo com A República, são os filósofos de um tipo especial que deveriam governar a cidade, segundo Platão, depois de terem passado o essencial de suas vidas preparando-se para a teoria, para a visão, para a intuição das Idéias. Mas nesse texto de Platão encontra-se um paradoxo, pois nada nos diz que essas Idéias tornem o filósofo da República capaz de gerenciar, de governar nas situações singulares, concretas. Esse tema do filósofo que dirige o olhar para um lugar e que não vê diante de seus pés também faz parte do anedotário filosófico dos gregos: lembremo-nos de Tales, que olha o céu e cai num buraco.

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