quinta-feira, 9 de março de 2017

POLUIÇÃO VISUAL

O modo de vida, dito moderno, bombardeia casa instante uma imensa quantidade impulso de propaganda. É assim que o modelo econômico promove o consumismo desenfreado e exaure os recursos naturais. Esse padrão de destruição do meio ambiente vem tomando ares de sofisticação em nossas ruas e avenidas: é o roubo de nossas paisagens naturais e uma vestimenta dos prédios com vistosos apelos de consumo.
A poluição visual está completamente fora do controle do poder público e as prefeituras não possuem mecanismo e meio de normalizar, fiscalizar e punir esse desrespeito. E as Câmaras Municipais, por sua vez, continuam alheias a essa invasão do espaço público. Devem portanto, o executivo e o legislativo municipais, urgentemente, criar normas urbanísticas e ambientais que preservem as paisagens naturais e a ambiência arquitetônica da cidade. Em alguns locais, como nas grandes avenidas, este tipo de propaganda traz um grave perigo à segurança dos motoristas e pedestres. O visual e, muitas vezes, mais interessante que o transito, tirando a atenção e concentração. Por outro lado, os edifícios que até há poucos anos se caracterizam como uma referência arquitetônica do espaço urbano, agora , empobreceram sua função, travestidos em suporte de “outdoor”, A cultura capixaba, em sua vertente arquitetônica, independente de questão estéticas, não merece esse tratamento de cabide.
Algumas referências paisagística e históricas, como o Convento da Penha, parecem soterradas em letreiros e luzes de boates, alheias à fé e à história. Placas luminosas de gosto duvidoso conseguem descaracterizar a subida e a decida da 3ª ponte, enfeiando a paisagem de Vitória e Vila Velha com uma situação de blasfêmia surrealista, pois o Convento da Penha está emoldurado por painel com uma dama de calcinha e por um espeto de churrasco: é a dupla tentação da carne. A deferência do capixaba com seus símbolos ou a admiração da bela paisagem da sua cidade está engradeada em apelos de consumo. Esse desrespeito deveria ser punido com o boicote do consumidor, não comprando os produtos anunciados nestes locais.
A poluição visual está retirando a referência emotiva dos monumentos arquitetônicos e naturais, diminuindo a sensibilidade do cidadão com a sua cidade e o espaço público. É urgente e necessária uma ação do poder público na preservação de nossas paisagens naturais e de nossas referências espaciais urbanas. A violência na usurpação da ambiência da cidade é um atentado contra todos os cidadãos e os representantes do povo não podem continuar a se omitir.
                                             Publicado em “A Gazeta" 19/05/2003.

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