A POLÍTICA E A CIDADE
O pensador grego da
antiquidade que formou a base do pensamento moderno sobre a política foi Platão
(428 a .c
– 387 a .c). Em seus Diálogos ,
Platão refunda o pensamento político grego e inventa esquemas
imaginários de poder. Em A República (433 a .c) Platão estará
fundamentando o direito na cidade-estado grega, onde a justiça é o fato
de que o conjunto da cidade está bem dividido, bem articulado, e que
nesse conjunto da cidade cada um tem o seu lugar e não tenta tomar o de outro. Desse modo, a hierarquia da cidade reafirma a natureza diferente dos indivíduos que compõem a cidade-estado, justificando dessa forma a divisão em classes e a ocupação
diferenciada do território da cidade.
Em A República, estar-se-ia tentando uma aproximação para definir a boa cidade, uma idealização. Poder-se-ia dizer que em A República
fundamenta-se toda a ideia da ciência do urbanismo com suas divisões,
setorizações, zoneamentos e hierarquizações do espaço. Nesse primeiro momento
do pensamento platônico, a cidade é um conceito puro, como a verdade e a
beleza, onde a funcionalidade e a boa forma da cidade pudessem ser trabalhadas
em um conceito técnico, onde no grego thecné
se aproxima de uma ideia de arte. Parece óbvia a coincidência desse pensamento
clássico do filósofo grego com uma gênese narrativa do urbanismo moderno.
De acordo com A
República, são os filósofos de um tipo especial que deveriam governar a
cidade, segundo Platão, depois de terem passado o essencial de suas
vidas preparando-se para a teoria,
para a visão, para a intuição das Idéias. Mas nesse
texto de Platão encontra-se um paradoxo, pois nada nos diz que essas Idéias tornem o filósofo da República capaz de
gerenciar, de governar nas situações singulares, concretas. Esse tema do filósofo que dirige o olhar para
um lugar e que não vê diante de seus pés também faz parte do anedotário filosófico dos gregos: lembremo-nos de Tales, que olha o céu e cai
num buraco.