CIDADE DEVORA TURISTA
O homem transformou a natureza e começou a praticar a agricultura. Acompanhou as caravanas cruzando desertos, montanhas, rios e desenvolveu o comércio entre os povos. Nos cruzamentos das estradas, nos acampamentos de pernoite e nos portos criou suas vilas e cidades. Nesses aglomerados de pessoas inventou máquinas maravilhosas e montou fábricas.
As cidades industriais atraíram muitas pessoas com as promissoras miragens do progresso. A vida urbana é a forma comum do homem dominar a natureza. As atividades humanas no solo das cidades provocam um desgaste imenso. Assim, o uso e a ocupação do solo urbano se apresentam como reflexo das atividades econômicas e sociais.
As cidades são um organismo vivo, criado e alimentado pelos homens para satisfazer suas necessidades, como ser social. Mas os urbanistas já alertam para o ”câncer” que a criatura está apresentando em suas entranhas de periferias sem saneamento, de ruas violentas, de praias poluídas, de esgotos escorrendo pelas valas e da destruição dos mangues, rios e florestas. Como não há planejamento, as cidades incham e se mantêm impassíveis no seu desafio de esfinge: “Decifra-me ou te devoro”.
A promoção do turismo com um conceito responsável de ecologia propicia o desenvolvimento dessa atividade econômica importante, comprometida com a preservação da natureza e também com o bem estar do homem. Entretanto, tem-se falado em planejamento turístico sem que se arranhe de leve na condição primeira para o desenvolvimento da atividade: o planejamento da cidade.
A indústria do turismo pode não poluir, mas é tão degradante como outra qualquer. Altera o equilíbrio entre a oferta de serviços públicos, equipamentos e infra-estrutura, provocando colapsos no fornecimento de água, luz e no abastecimento. Aumenta a quantidade de lixo nas ruas e sobrecarrega o sistema de esgotamento sanitário.
No ano de 2001, o Estatuto das Cidades consolidou uma visão holística sobre a urbanização e a sua interação com a natureza. Tratou as cidades com uma dimensão humana e social. Mas poucas cidades têm hoje um plano para ordenar o seu crescimento e manter sua ambiência o que, na maioria das vezes, é o seu maior atrativo turístico.
Portanto, o turismo é mais uma das atividades econômicas que se inserem no contexto da urbanização e deve, pois, ser tratado de maneira a se aproveitar de seus benefícios e minimizar os decorrentes prejuízos sociais e ambientais. Deve ser encarado com responsabilidade e, para isso, o passo mais importante é a elaboração de um plano urbano com o compromisso da sua comunidade com o futuro.
Assim o turista poderá contemplar, do alto de uma montanha verdejante, a cidade a seus pés e decifrar toda a sabedoria que seus cidadãos demonstram no amor à sua criação.